sexta-feira, 15 de abril de 2011

Doce

Ela afagou meus cabelos e disse-me para ficar tranquilo.
Sou sacerdote dela e a levo comigo com um orgulho simples de quem carrega um brinde singelo de ouro. Eu que nem gosto de ouro, de usá-lo. É algo externo a mim, gosto de vê-lo de longe. Assim lembro do que me contém, tanto e com tanta força que me basta o que está dentro.
Formo minhas capas, minhas camadas e ela desvela, desfaz, revela o que sou mais profundo. A cebola se fez dia após dia e ela com sua faca dourada me vê e sabe quem sou no mais profundo.
Carrego a água e vou calmamente olhando e relembrando a marca ancestral do amor que me revela. A água calma que é a força primordial, a força revigorante, a força refrigerante da alma. E cresço na margem da sua trajetória para te contemplar. Eu que também sou limo, mata ciliar, mato e muitas vezes me deixo ir com você e outras me deixo ficar aqui com ele na margem.
Ela afagou meu cabelo e disse que aguardasse, ela me afagou e me disse que estarei, um dia tão perto dela que serei ela e ela será a mim.
Eu afaguei o cabelo de meu filho e sendo a mim e a ela cantei o amor de minha alma para aquele serzinho, aquela matéria de amor que tinha calor na pele, que tinha a pele formada de mim, aquele que era do meu útero de homem. Afaguei e cantei. E trouxe a calma e a milha alma hoje é serena.

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