A chuva fina me deixa um pouco nostálgico. Miro o horizonte. Mar de casas amontoadas, de vidas, alteridades...
Olhos nas torres à distância, minha bússola para não me perder?
Meu lar de infância, olhar enviesado entre o passado e o presente. Meu corpo está situado na mesma localidade e meu passado está lá...
Cheiro de terra molhada, palmeiras, roseira.
Os meus espinhos e o meu melhor cheiro.
O café da manhã e o almoço em bolinhos de feijão, comer de mão.
Avó materna, maternal minha amada Nanã, extremamente friorenta e rabugenta.
Estou lá em instantes, na paisagem que me obrigava a brincar em casa num teatro de bonecos, casa cheia de crianças, remendo nas roupas, suor.
Meu coração dói de saudades, da dor e da delícia.
Volto correndo. Estou deste lado de cá. Pés no piso acinzentado.
"Cheiro de terra molhada é proibido dizer porque traz consigo a morte!" Lembro de minha avó...
Meu piso não é cimento vermelho. É cinza-esbranquiçado e frio.
E minha alma que era como o piso nos meus pés se torna cada vez mais "pecilotérmica".
Minhas tias sempre diziam de mim carinhoso, dengoso, abraços afáveis e mão frias no frio e quentes no calor.
A aula de Biologia resolveu o mistério:
"Minhas mãos são pecilotérmicas."
Estou de novo entre o piso vermelho e o cinza, entre o frio e o quente, estou sem controle entre o hoje e o ontem.
Minhas mãos continuam intermitentes e o piso cinza.
Mudei. Aos poucos mudei, mas trago em mim tudo. As rosas, espinhos, palmeiras, paisagem, Minha avó e o feijão amassado, o café, a censurada terra molhada e todas as dores e delícias de ser quem eu sou.
Meu piso é acinzentado, mas já esteve vermelho e voltarei quando precisar, fecho os olhos e abro, alteridades, torres, casas amontoadas, vidas nostalgia, comunicação, Federação...seco as lágrimas e me olho.
Onde cheguei? O que conquistei? Encontro alguém frente à frente no espelho dágua, cispartido entre o passado e o presente...
Eu.
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