sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dois ou mais

A relação de dependência entre as pessoas me chama atenção. É interessante perceber que a idéia de disposição por uma pessoa deixa a outra na zona de conforto e automaticamente é atribuída à primeira a obrigação de dispor eternamente. Uma mudança nesse equilibrio pode fazer com que a parte confortada tenha atitudes flexiveis ou inflexiveis. Aí está a pedra de amolar nos relacionamentos. Não pretendo descrever arquétipos universais destes comportamentos, mas ilustrar algumas observações que considero importantes.

De modo geral as relações humanas são movidas por interesses. Namoros, amizades, relações de trabalho, família. Há sempre uma relação comutativa que pode persistir se resultar em multiplicação ou soma. Mas, porque algumas pessoas insistem em se relacionar quando sai em desvantagem? É a isso que chamo de dependência ou disponibilidade vampírica. Às vezes o indivíduo por se encontrar numa situação psicologicamente vulnerável se torna vítima de outro por um ciclo de dependência gerado com o intuito de manter a presença alheia como a um troféu. Devemos considerar que isso se dá, na maioria das vezes, de forma inconsciente pelo menos para uma das partes. Quando a parte "dominada" se dá conta do desnível matemático é que surgem as revoluções.
É engraçado observar que a parte "dominada", normalmente é a mais forte das duas e sai das relações doentias dando reviravoltas surpreendentes. Acredito ser importante para o processo de formação individual tais contatos, inclusive para a percepção de tais realidades para uma das partes. Isso não significa dizer que todas as pessoas vão passar por esse processo com a mesma visão de realidade. Algumas podem simplesmente ignorar o processo e continuar sendo vampirizado sucessivamente e abandonado por seu predador.
Já havia percebido esses sítios relacionais e sempre me esforcei para sair e retirar as pessoas com as quais me relacionei das suas respectivas zonas de conforto. Garanto que não é facil. Isso requer uma proximidade ímpar e uma doação ao relacionamento que as superficialidades da nossa atualidade não absorve. Percebo que a ditadura da felicidade e bem-estar, imprime falta de corpo à ideia de cumplicidade e evolução do outro.
Gostaria de convidar os leitores a conhecer um pouco mais sobre o relacionamento a dois e o relacionamento individual através de algumas indicações de leitura.

"Quem me roubou de mim?" de Fábio de Melo, que propõe o vampirismo relacional(recebi de presente de uma pessoa muito especial que quebrou alguns paradigmas meus).


Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus, com a proposta de diferença dos comportamentos intergêneros.eve em consideração a capacidade de uma mulher ter comportamento masculino = Marte ou vice-versa, independente de ser homossexual ou não. Os papéis assumidos nas relações podendo esses papéis ser móveis ao longo dos relacionamentos. Ficou difícil? Vou ser mais didático. Uma pessoa pode ser tipicamente Marte numa relação, independente do sexo ou vice-versa e depois mudar.

E A arte da felicidade do Dalai Lama para refletir sobre as aspiraçoes individuais que permeia toda pessoa.

E a interessante música da Venessa da Mata, O masoquista e o Fugitivo. O que você está sendo agora?


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gôsto

Um gosto salgado misturado à minha saliva me condena a beber o passado.
O sal é a memória do corpo e destila em meu interior.
O equilibrio do sabor de algo tão distante que há tempo não tinha acesso.
A lágrima da Natureza me convidou, abriu as portas e me deitou no sofá da sala.
Deitei a chorar, soluçar minha estrada, meus caminhos.
Fui transportado para um lugar empoeirado, vazio, sem luz.
Um espelho de luz e água e raios expôs como lanterna o obscuro de minhas memórias.

Eis o melhor e o pior de mim...

Chuva



A chuva fina me deixa um pouco nostálgico. Miro o horizonte. Mar de casas amontoadas, de vidas, alteridades...
Olhos nas torres à distância, minha bússola para não me perder?
Meu lar de infância, olhar enviesado entre o passado e o presente. Meu corpo está situado na mesma localidade e meu passado está lá...
Cheiro de terra molhada, palmeiras, roseira.
Os meus espinhos e o meu melhor cheiro.
O café da manhã e o almoço em bolinhos de feijão, comer de mão.
Avó materna, maternal minha amada Nanã, extremamente friorenta e rabugenta.
Estou lá em instantes, na paisagem que me obrigava a brincar em casa num teatro de bonecos, casa cheia de crianças, remendo nas roupas, suor.
Meu coração dói de saudades, da dor e da delícia.
Volto correndo. Estou deste lado de cá. Pés no piso acinzentado.
"Cheiro de terra molhada é proibido dizer porque traz consigo a morte!" Lembro de minha avó...
Meu piso não é cimento vermelho. É cinza-esbranquiçado e frio.
E minha alma que era como o piso nos meus pés se torna cada vez mais "pecilotérmica".
Minhas tias sempre diziam de mim carinhoso, dengoso, abraços afáveis e mão frias no frio e quentes no calor.
A aula de Biologia resolveu o mistério:
"Minhas mãos são pecilotérmicas."
Estou de novo entre o piso vermelho e o cinza, entre o frio e o quente, estou sem controle entre o hoje e o ontem.
Minhas mãos continuam intermitentes e o piso cinza.
Mudei. Aos poucos mudei, mas trago em mim tudo. As rosas, espinhos, palmeiras, paisagem, Minha avó e o feijão amassado, o café, a censurada terra molhada e todas as dores e delícias de ser quem eu sou.
Meu piso é acinzentado, mas já esteve vermelho e voltarei quando precisar, fecho os olhos e abro, alteridades, torres, casas amontoadas, vidas nostalgia, comunicação, Federação...seco as lágrimas e me olho.
Onde cheguei? O que conquistei? Encontro alguém frente à frente no espelho dágua, cispartido entre o passado e o presente...
Eu.






Música Baiana

Andei refletindo sobre o axé baiano e seus percursos. Como participante e consumidor da cultura de axé desde os seus primórdios, me lembrei do tempo que eu dançava requebra com a poesia inconfundível de um Pierre Onasis que esbanjava sensualidade quando falava da mulher como musa de sua música rebolativa e alegre.

Nas poeiras dos meus pensamentos(tomei cuidado ingerindo um anti-alérgico antes porque o negócio é perigoso para quem tem rinite alérgica) encontrei uma letra contemporânea à de Pierre que poderia muito bem se adequar à nossa atualidade e os rumos que alguns grupos de pagode resolveram adotar. Gostaria de ressaltar que o meu lugar de fala é de um consumidor da cultura, portanto, não há aqui, evidentemente, nenhum ataque aos ritmos mencionados. Voltando a letra muito divertida, me lembro de uma cantora que parecia levar na cabeça uma tocha incandescente e com os dentes enormes dançava para frente e para trás como a uma galinha.

 
A Roda
Sarajane

Vamos abrir a roda
Enlarguecer

Vamos abrir a roda
Enlarguecer

Tá ficando apertadinha, por favor
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha

(repete)

ô meu neguinho eu tô ligada em você
ô meu neguinho eu tô ligada em você
Se você quiser me ver, sabe encontra
O desejo de te ver é que me faz te amar

Vamos abrir a roda
Enlarguecer

Vamos abrir a roda
Enlarguecer

Tá ficando apertadinha, por favor
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha

(repete)

Essa dança apareceu, minha neguinha
Foi tirada de uma ave, de uma galinha
Deslizando pra frente e pra trás
Abre a rodinha, meu amor
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha, eu quero ouvir
Abre a rodinha, meu amor
Abre a rodinha, eu quero ouvir
Abre a rodinha, por favor
Abre a rodinha, eu quero ver
Abre a rodinha



Interessante perceber a inocência da época em comparado aos sucessos atuais, que como toda a música de massa invadem nossos ouvidos através de enormes caixas de som alheias e na pausa do Mp3 player, percebo curioso essas invencionices vendíveis à nossa sociedade.

Perereca Pisca

Black Style


Quando chego na boate
Ela se excita
Levanta a garrafa de whisk
A perereca dela
Pisca pisca pisca pisca pisca 
Por favor apague a luz
A luz, a luz
Mas quando chego na boate
Ela se excita
Levanta a garrafa de whisk
A perereca dela
Pisca pisca pisca pisca pisca 
Abecedário, abecedário, abecedário da alegria
Vou te comer todo dia
(a , b , c , d) abecedário da alegria
(a , b , c , d)
(bis)
A - aquece a perna
B - buchechada
C - com carinho
D - devagarinho
E - eu tô gostando
F - faz meia lua
G - gordinha gostosa
Ela pede, ela pede
Bota com raiva, bota com raiva
Bota com raiva 

Muito bem, evoluímos e num breve clicar(sites de letras de músicas) percebo o quão mais avançados estamos no que tange a liberdade sexual na música, ou poderia dizer libertinagem? Será que precisamos levar nossas intimidades de forma tão escrachada para os espaçoes de diversão? Imaginem se "A Roda" fosse apropriada para o mesmo movimento literário de "Perereca Pisca"?

Em tempo, gostaria de mencionar como um destaque de criatividade na composição de pagode "A liga da justiça" aliviou os meus sentidos no último carnaval.




Percebo que tais liberdades do léxico libertino na música baiana podem ser levados com poesia como no exemplo da linda musica-desabafo de Tomate "Eu te Amo Porra!".


Hoje senti uma saudade imensa de Sarajane e de Pierre Onasis e me senti assim um pouco fã de Gerônimo que descreve na sua visão de marechal do axé baiano a evolução do nosso processo de criação musical.

domingo, 24 de abril de 2011

Tempo


Entrego a ti, Tempo...
A saudade que eu sinto, os meus planos, minha alma.
Entrego a ti, Tempo!
Minhas demoras, minhas pressas.
Entrego a ti, Tempo!
Minhas decepções, meus arrpendimentos.
Entrego a ti, Tempo!
Minhas vitórias, minhas derrotas, meus inimigos
Entrego a ti, Tempo!
Nos veios de suas mãos enrugadas percebo a força da sabedoria, no vento que me envolve, sinto a força que me transita e você Tempo, me provém...
Tempo nos olhos azuis dos idosos, na sabedoria, na luz de cada dia, o seu dedo, sua força, seu axé...
Minha raiz é verde, minha força caule, Tempo me plante, me cultive e com você eu crescerei.
Quero dormir no seu ventre árvore, me envolver clorofila, me envolver sabedoria....
Coruja é pouco para mim.
Macuradilê! Zara Tempo! 

sábado, 23 de abril de 2011

Manhã

Hoje de manhã senti um cheiro conhecido,
Uma mistura café, incenso de canela, folhas e dendê
Hoje senti saudade daquele cheiro que cultivava
De súbito me arrepiei e percebi que sentia falta de mim
Hoje senti o cheiro de chá verde e o mofo e do lixo sem jogar.
Plantas mortas, velas, alecrim, cozinha e expectativa.
É percebi que a constância era minha externamente e internamente mudava
A margem do rio e a espera só me fizeram gritar com os poros o que eu não quero
Meus sabores de pimenta calabresa e macarrão instantâneo eram de uma felicidade ou de uma tristeza adiada?
Hoje quando sinto esse cheiro misturado na minha casa percebo que nunca estive inteiro em parte alguma porque não sou inteiro, não posso ser. Sou intercalado de situações, um ser intercalado, intermudo.
E quando mudo é quando mais falo.
E falo forte alto com meus olhos, quem disse que a revolução não se dá por dentro?
E dentro de mim travei e travo lutas e nunca terei certeza da vitórias enquanto essas vozes não calarem
Espero que nunca calem.
Café, incenso de canela, alecrim, dendê, pimenta calabresa, mofo, lixo, música...lembranças...manhã.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Epifania de Shopping

Meu corpo doía, músculo a músculo do trabalho executado,
Meu coração prosseguia, por amor.
Eu prosseguia guiado pelo coração, isso me tornava luz.
Interessante perceber que quando a gratidão é atingida a mente toma o lugar
Dominante mostrava os perigos da dor e racionalmente eu parava, cedia, pensava.
Por onde eu andei?
Esse vale sombrio de explorações não é mais plano
Não me faz pleno,
Parti os grilhões que me oprimiam e no som lancinante surgiu um clamor vazio...
Uma pergunta:
Quem é você? Não esqueça! Quem é você?
Lembrei cada detalhe, de cada açoite e me vi.
Entrei pé ante pé na porta de madeira de lei cortada por meu tataravô, no espelho talhado pelo suor azêdo e coberto de melanina.
Molhei o rosto e me vi em todos os cantos, menos onde eu deveria estar,

Eu sou mais que isso e vou provar!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Formação

Estrada tortuosa onde um dia o motorista é aprendiz e o aprendiz motorista,
A vida é intensa formação.
Eu estou voltando a mim emergindo e o ar que entra pelos meus pulmões.
Sou pleno em poesia e fé.
Recebi a forma agora serei ação.

domingo, 17 de abril de 2011

Deus

Hoje senti Deus dentro de mim...
Em cada partícula de poeira acendida pela luz refletida que era reflexo do que me continha
O que me era contido, também me continha e me fazia refletir.
Do meu acordar sorridente, passando pelo meu cuidado com os outros, conseguia ver o milagre do Gênesis,
O meu Orun.
Beijei a face aflita de minha mãe, amei meu amigos, amei meus conhecidos, amei a mim mesmo
Dancei na rua, distribui afeto e terminei o dia com o coração coberto de amor por alguém
Um amor inexplicável pelo mundo e pelos espíritos à minha volta me tomaram tanto e com tanta força que me derramavam.
Toquei o dedo de Michelangelo, não era Deus do outro lado era a mímese, era o mimetizador.
Senti o sol, amei meu corpo, amei o alheio e sorri com fervor.
Hoje depois de muito tempo senti a minha força, senti quem eu sou, quem eu fui e quem eu vou.
Percebi porque estou vivo, percebi porque tantas estradas, tanto chão, tantos desafios eu já vivi,
Porque fui escolhido para tanto...
Meu amor é infinito, minha dedicação ao homem é um sem-fim, sinto que perdi um pouco de tempo, mas me devia isso porque minha missão é pesada e agora não há mais tempo meu caminho é seguir, passo a passo, degrau a degrau.

E vou com meu Deus, com meus Deuses e Deusas, com meu sorriso que é troféu de minha vitória e com minha alma limpa de amor...

Dia após dia.

Inspiração

Eu hoje inspirei profundamente o ar para os meus pulmões ao acordar,
Inspirei e percebi que trazia para muito mais de mim do que estava sendo.
Às vezes nós saímos um pouco de nós e bagunçamos um pouco a estabilidade das nossas vidas,
A vida é mesmo um ciclo de pequenas revoluções e precisamos peitá-las assumindo os riscos que isso nos traz,
Hoje eu inspirei profundo as partículas de mim mesmo que orbitavam elétrons a minha volta,
Cedi à tensão que insistia em manter-me longe...distante e me inspirei...
Concretizei meu coração em prótons e elétrons e me sinto feliz e mais completo.

sábado, 16 de abril de 2011

Original

Senti hoje no interstício do mundo a poeira dos momentos.
Toquei a parede e senti a paz, a tristesa, a alegria, o cheiro de cada partícula que aglutinava-se nos vãos das minhas digitais...
Vi que éramos iguais, todos Dna's de momentos, eu, memória do corpo,  ela, memória do lugar.
Me identifiquei com a poeira...algo que vai depositando pouco a pouco, dia após dia e vai ficando.
E vai se formando aos poucos, se moldando no friso do mundo, onde tudo o que era revolução se assenta se acalma e vai...
Hoje me senti poeira e entendi que minha rinite é identidade. É essa identidade incômoda, onde aquilo que que é força briga e as partes cedem.
Eu cedo aos alérgenos e respondo com o espirro...
E o espírito agita o ar e se deposita novamente em poeira.
E eu que havia esquecido que essa é a forma original do homem.
E eu que havia esquecido que essa é a forma original do mundo.
Sei que temos encontro marcado...
Mas sigo fingindo esquecer.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Doce

Ela afagou meus cabelos e disse-me para ficar tranquilo.
Sou sacerdote dela e a levo comigo com um orgulho simples de quem carrega um brinde singelo de ouro. Eu que nem gosto de ouro, de usá-lo. É algo externo a mim, gosto de vê-lo de longe. Assim lembro do que me contém, tanto e com tanta força que me basta o que está dentro.
Formo minhas capas, minhas camadas e ela desvela, desfaz, revela o que sou mais profundo. A cebola se fez dia após dia e ela com sua faca dourada me vê e sabe quem sou no mais profundo.
Carrego a água e vou calmamente olhando e relembrando a marca ancestral do amor que me revela. A água calma que é a força primordial, a força revigorante, a força refrigerante da alma. E cresço na margem da sua trajetória para te contemplar. Eu que também sou limo, mata ciliar, mato e muitas vezes me deixo ir com você e outras me deixo ficar aqui com ele na margem.
Ela afagou meu cabelo e disse que aguardasse, ela me afagou e me disse que estarei, um dia tão perto dela que serei ela e ela será a mim.
Eu afaguei o cabelo de meu filho e sendo a mim e a ela cantei o amor de minha alma para aquele serzinho, aquela matéria de amor que tinha calor na pele, que tinha a pele formada de mim, aquele que era do meu útero de homem. Afaguei e cantei. E trouxe a calma e a milha alma hoje é serena.

Paz

Assim sou eu,
Metáfora viva do mundo, sou terra
Embaixo de mim(ou dentro) profundas reciclagens, revoluções, transformações...
Telas de descanso, dissimulações naturais, eu levo a paz,
E a minha paz?
A paz que eu preciso e que desvelo aos outros é o desejo que tenho pra mim.
Tenho um buraco aqui no centro do estômago e nele há sopas de elementos em profunda, intensa revolução
Telas de descanso, trago para dentro a falta de paz alheia
Aqui dentro administro isso, sou máquina de fazer paz
E faço e refaço e me esqueço de mim no mundo
Metáfora viva pelo avesso sou guerra
Pinto as paredes de vermelho e preto
Amolo as facas e as lanças,
Aponto a seta
Aqui sou um sem limites de mim
Aqui realizo o que me envergonha mas o faço
Na metade que a mim cabe e exponho as dores do buraco negro de mim
E nada entra mais e só sai
Assim sou eu, memória de extremos na eterna busca de equilibrio...
Assim alma bruta, corpo leve, corpo bruto, alma leve, novelo de espinhos, espinhos de lã...
E o que eu quero?
Não sei.

Luta

Luto com os meus lutos,
Todos os pretos de mim numa tela de clarão,
Morro a cada investida perdido do amor,
E a cada passo percebo o quanto o adoro, o amor.
Mas passo a passo percebo que ele está longe do concreto
Ou me distancio do mundo?
Me joguei um milhão de vezes no abismo do amor
Lutei, resisti ao hábito clichê de renegá-lo como se não existisse,
Mas sempre acreditei naquilo que sinto e no que me dói e compraz.
Me feri e me firo um milhão e meio de vezes
Na teia de arames, na esteira de espinho e lambo o sangue que escorre em mim
Meu rosto, minha pele, minhas entranhas, meu falo,
Bebo do sacrifício que é desgastar-se pelo maldito ritual do amor
E assumo os meus riscos
E sigo a estrada
Pra rua me levar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Água

É agua meu nome.
É mágoa o nome da dor da água que choro,
Esse amor-estanque que transborda,
Esse olho forte que chora para adiante acalmar o corpo e a alma,
É água meu espírito errante na ressaca do útero do mundo,
É água meu coração que água tudo o que ama,
Sou estrangeiro a nesse mundo de superficialidades,
Sou a tensão superficial, mas sou a profundidade agridoce de rio com mar.
E sou água, reelaboro o mundo nesse curso de uma a mil vezes,
Pois estou acostumado às mudancas de estado, estação, ritmo.
É agua meu nome,
Não tente me cercar jamais, me roube e me terá, mas por instantes...

sábado, 2 de abril de 2011

E...



Meio de mim parte...
Partido ao meio em veias e veios abertos.
Meus sulcos exprimem a clorofila cheirosa do que é ser eu,
Do que é dor e do que é ar.
Acho que talvez até aqui é tudo que sou,
É o que consegui ser, acredito que a vida é mais do que o menos que conseguimos pensar,
E sigo trilhando meu caminho acreditando em destino, mas fazendo as estradas, pois nunca se sabe quando precisaremos voltar.
Sei que meu caminho é Doar, mas pretendo doar menos nessas proximas décadas, para que eu Viva.
Sobreviver não faz mais parte de minha jornada,
Daqui meu caminho só admite conquistas e estou preparado para elas,
Já perdi demais e agora Caracol experiente deixarei parte de mim em tudo, mas trarei bem mais de mim e do outro, porque mereço.
Sigo fodendo pedras e deixando rastros e trazendo comigo o suficente para não deixar nu o adversário, evitarei chuvas torrenciais e tempestadas e entrarei na casa tempo suficienter para não ser percebido e perseguido, sempre fui de Zélia e escolhi o fugitivo de Nessa.
Continuarei fugindo e tentarei menos estragos no caminho...
O amor não é mais prioridade para mim. Pelo menos Eros. Agora é ir seguindo, muro após muro, porta após porta, fechadura após fechadura em mundos instantâneos e o amor que derrama em meu peito guardarei comigo e cuidarei de evaporar essa água, com o suor nosso de cada dia. Darei de mim ao que me suplanta e poderei até doar meu corpo a um alheio, mas para meu prazer e só.
Meu corpo dificilmente disponível e minha alma talvez nunca mais. Terei de traçar os limites do consumo de minha vida, ter meus territórios e enchê-los de muros altos e fortes e dedicar o meu amor aos meus. Àqueles que me antecedem, os que eu represento com todo o respeito.


Assumo a lei e me dou a ela por completo. O nome dessa força é basta. O nome dessa lage é casa e me caso comigo mesmo. Hoje e sempre. Assim Seja!