domingo, 21 de novembro de 2010

Beber o dia


Ontem acordei com vontade de fruir o dia. Bebê-lo.


Queria que fosse só pra mim, sem concessões, sem bom dias!
Queria brincar de ser rei, mas sem suditos.
E fiz.
Saí por ai sem me preocupar com nada pelas matinas, fui ver Inaê, molhei os pés na agua salgada.
Caldo de cana, Coco verde, li, cozinhei, fui ver um filme, refleti sobre a vida e enfim sambei.
E como meu objetivo era ser rei, saí mais cedo e deixei meus suditos suarentos terminarem o dia enquanto lia e depois, mais tarde, enquanto dormia.
Mas, nesse processo algo me tocou.
O meu reinado sacerdotal se integrou a uma égide a um rei maior, naquele dia fatidico, no qual lembramos a verdadeira essencia do nosso império. Uma simples estátua, a qual fiz reverência, me reafirmou imperador.
No dia de uma consciência negra, onde um império de dormentes pelo álcool dançava suavemente lembrando os ancestrais. No dia de uma consciêcia me dei conta que talvez muitos de nós ainda esteja inconsciente do que trazemos na alma de tão importante que acaba se transmutando na pele, nos gestos, no vestir, na visão de mundo. Pedaços recortados de uma cultura de cuja consciência se dá por união dessas partes. Uma cultura de corpo a corpo e que está no mundo se resignificando infinitamente.


Quer saber de uma coisa?




Eu sou muito negro, eu sou muito mundo. Eu sou muito África.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Dois Rios

Dois rios.






Me acho e me perco em corredores confusos. Labirintos criados por mim? Minha mente lacunar, onde os lapsos são preencidos com o esquecimento.
Se deixar é se perder e minha alma é para isso. Dar lugar.
Enquanto isso o mundo persiste, a vida continua e o meu relógio para.
Toda a sorte de movimentos continuam nessa matriz corpo deixada e o mundo lá fora continua.
Aqui dentro em mim lacunar, o tempo para e quando volto não vejo que o rio de Parmênides passou e continua passando.
A presença cada vez mais constante de meu perdimento, de minha ausência, gera alegrias, felicidades, gratidão e vejo a verdade: me perder é me ganhar.
E continuo com pé no vale onde corre dois rios. Os dois de Parmênides e eu no meio vendo-os correr e entrando de quando em quando para mostrar que eu sou e estou neles.
Mas há esse momento que preciso contemplá-los e para isso preciso estar mais fora do que dentro deles, tenho que fazer escolhas difíceis e meu eu lacunar não pode se sacrificar porque é do que sou feito, para que sou feito.
Escolho por deixar o outro rio. E se eu perder parte desse rio? E se eu ganhar? Nunca irei saber. É um grito de socorro e só e corro e vou na solidão de me entesnder e me desentender. Na solidão de não me abrir com quem quer que seja, porque há lugares só meus nesse ser lacunar que se doa. Há desejos só meus, mas para isso preciso decidir, preciso saber. Tenho a alegria dos amigos, das festas, do trabalho bem-feito e os outros não entendem quando eu digo que eu sempre fui muito só. E ainda há dois rios para cruzar eternamente.
 
Rio São Francisco
Rio Oxum

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tempo ou me encontrei em Maíra

Em pouco tempo me percebo na recepção de uma clinica me revisitando.
Encontrei uma flor, seu nome Maíra, uma índia de mãe com descendência cigana. Maíra existia firme dentro de corpo difícil e tinha aquele jeito de balbuciar tudo. Mas com eloqüência de um orador.
E fui me aproximando e reconhecendo os signos.
Aprendi uma linguagem interessante, uma que é em silêncios(tempos depois descobri que a pausa é a dona do som com certa entidade da qual respeito todas as homonímias)aprendi anos antes com uma parte de mim a minha parte mais calada que guardo com carinho. E estava na linguagem de Maíra, percebi que entendi sua freqüência e o riso foi fácil e via sua alma, antes do corpo.


Maíra você talvez não saiba, mas você me reentregou a mim mesmo, refez minha alma. Maíra me lembrei o que é sentir esse amor de novo. Aquele que João Victor me ensinou e nunca vou esquecer. Olha as fotos do meu professor aí!


Beijos estalados, fofa!




P.S.: Maíra é uma menina especial que encontrei numa clinica. Portadora de uma má-formacao congênita, não-identificada e mais uma criança tratada com o procedimento de paralisia cerebral.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Resiliência

Tudo começou quando atendia um cliente que me perguntou sobre o assunto resiliência
Não sabia patavinas sobre isso e preguntei, óbvio. Ele me disse que era a capacidade das pessoas resistirem a problemas, principalmente em situações adversas, legal! Como encontrar um livro assim?


Tinha algumas opções: 
1 - A interrogação pairaria na minha cabeça até eu fazer uma pesquisa minuciosa; 
2 -  Eu perguntaria qual era a área de estudo vinculada à danada (deduzi que era um substantivo feminino) e me viraria para encontrar 
ou 
3 - como sou esperto, me acabaria no google enfrentando as caras feias dos clientes mal-educados*, segurando minha cara de dignidade até a morte por tentar salvar mais um cliente. Nada disso aconteceu. 

1 - Não aceito, sou teimoso, de Oxossi e vou até o fim pra descobrir alguma coisa; 

2 - Ele não sabia e 

3 - Google fora de serviço.


Meuuuu Deusss...
Como o local onde faço as consutas ficam ao lado dos livros de Virginia Woolf, Clarice Lispector, Oscar Wilde e Caio Fernando Abreu, estava prestes a encontrar uma gilete dentro de um dos livros e cortar meus pulsos (surto literário, não tenho vocação para suicida), quando aconteceu um imprevisto um estudioso no assunto era o proximo a ser atendido por mim e se pronunciou: "Tem Elisabeth Kubler-Ross." 
Eu pensei Opa! Tô salvo.

O cara me contou do trabalho dessa mulher e pasmem: Ela é uma especialista no assunto, escreveu livros sobre pacientes em estagio terminal, sendo os  mais conhecidos, "Sobre a Morte e o Morrer" e "A Roda da Vida", este último a biografia da moça que foi uma batalhadora. 
Interessante que depois de 1 ano voltei a este assunto, e logo no dia Finados e foi tudo tão natural. É a espiritualidade trabalhando, né? 
Bicho, li as últimas páginas desse livro agora, pela net, estou louco para ler  todo. Mesmo tendo indicado para muita gente, confiando na minha e na percepção do cliente-salvador-da-pátria(com o perdão da nova ortografia). 
Algumas vezes fiquei sem entender direito o meu papel de indicador de livros quando algumas dessas pessoas que indiquei voltaram com um sorriso no rosto e um abraço para mim. Acho que Elisabeth fez a diferença na vida deles. Me senti orgulhoso por ser instrumento disso.
Hoje, Elisabeth, resolvi dedicar as ultimas horinhas do dia dos mortos a você. Precisava  dizer que te amo profundamente e que se sinta abraçada e amada  em qualquer lugar do plano espiritual  em que estiver. E a vocês amados leitores indico de coração, não só para pacientes terminais, mas para quem quer continuar a vida com outros olhos.
Beijos e Até mais!




http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/418159/A-Roda-da-Vida








*Que não sabem esperar civilizadamente a sua vez, por conta de um maldito imperialismo capitalista que não conseguiu entender a definição de status como algo transitório e tenta imprimir aos profissionais de atendimento a qualidade de subalternos, numa inversão de papéis, porque subalterno sabe menos e na situação tratava-se do extremo inverso.